Introdução à Sociologia ii: O Iluminismo

Introdução à Sociologia ii: O Iluminismo
Nicholas Cruz

O século XVIII assistiu às Revoluções Americana e Francesa, fruto de uma crise de mentalidade iniciada pela filosofia moderna e pela revolução científica, que conduziu a um aumento da secularização, a uma maior tolerância e à gentrificação de vários estratos da sociedade. A nova atitude daí resultante consistiu numa veneração das capacidades morais e intelectuais do ser humano, capazes de ultrapassar as tradições e os preconceitos A ideia central do Iluminismo será a de que o progresso histórico é possível se a humanidade aderir aos princípios da razão, pois se foi possível descobrir as leis que regem o mundo físico, também foi possível descobrir as leis que regem o mundo físico. leis do mundo social Estamos empenhados na criação de um mundo mais próspero e justo.

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Para o desenvolvimento da sociologia, os principais pensadores associados ao Iluminismo são os filósofos Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu (1689- 1755) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). De facto, há quem atribua ao primeiro a origem do método sociológico. Segundo esta visão, a abordagem sociológica de Montesquieu apareceria pela primeira vez na sua Considerações sobre as causas da grandeza e da decadência romanas onde afirma que, embora a história possa parecer caótica e um produto do acaso, ela é resultado de leis que é possível decifrar Esta convicção contrastaria com a ideia da divindade como causa final da sociedade e representaria também uma rutura com o pensamento social hobbesiano, que defendia que o movimento histórico era uma consequência da vontade dos homens e, por isso, completamente imprevisível. Outra das atribuições que podem ser feitas ao filósofo iluminista e da qual bebem hoje as ciências sociais,é do invenção de tipos ideais (Montesquieu considerava, assim, que a mente humana pode organizar a multiplicidade de costumes, traços e fenómenos sociais numa série limitada de tipos ou formas de organização social e que, se for estabelecida uma tipologia adequada e exaustiva, os casos particulares conformar-se-ão com ela, tornando o universo humano tão inteligível como o próprio universo humano.(Giner, 1987: 324) No entanto, como Weber explicaria mais tarde, as tipologias devem ter em conta o facto de as instituições sociais serem mutáveis e adquirirem uma série de nuances que vão para além do tipo ideal; caso contrário, pode incorrer-se na reducionismo sociológico que consiste em deformar o mundo, simplificando-o, para o tornar mais fácil de estudar.

Consequentemente, com Montesquieu, surgirá a ideia de que não é possível nem desejável desenvolver uma teoria política sem uma teoria social prévia. O filósofo francês relativiza a importância do direito natural na criação das leis, defendendo que estas são antes uma consequência das múltiplas inter-relações dos fenómenos físicos e sociais. Embora acredite numa razão comum a todosA ideia subjacente é que a natureza humana não é estática e que as suas variações estão relacionadas com o ambiente social em que está inserida (aquilo a que os sociólogos chamam cultura e estrutura social).que analisar cada regime político como correspondendo a uma determinada sociedade Montesquieu era, assim, cético quanto à possibilidade de criar um mundo jurídico justo, criticando, por um lado, o carácter teológico da iusnaturalismo Por outro lado, o determinismo cego de certas escolas iluministas. Por conseguinte, defenderá uma doutrina baseada na repartição de competências em que haveria lugar para tudo, desde uma república aristocrática a uma democracia popular, sendo a sua fonte de preocupação a forma como tal governo deveria ser organizado para garantir a liberdade. Ora, esta liberdade, para ser considerada como tal, exigia a existência de divisões sociais, ou seja, Montesquieu entendia as diferenças sociais não só como inevitáveis, mas também como necessárias. A ausência total de tensão implica a ausência de liberdade, porque não há diálogo ou discussão possível.

Montesquieu imagina, assim, o poder difundido no tecido social, daí que a sua crítica da moral se baseie na a virtude do povo como garantia de que a organização social não se deteriora e conduz a dificuldades e ao domínio de uns sobre os outros. Cartas persas A liberdade é um fardo, e o indivíduo deve cuidar dela sem se submeter ao egoísmo e ao hedonismo.

Se Montesquieu tem pouca fé na perfetibilidade humana e a ideia dominante de progresso da época não tem lugar na sua obra negando categoricamente o otimismo racionalista em relação à história da civilização Rousseau vai um pouco mais longe e, no Discurso sobre a ciência Rousseau distingue dois tipos de progresso: o progresso técnico e material, por um lado, e o progresso moral e cultural, por outro, que, na sua opinião, está claramente desfasado do primeiro (uma questão que ainda hoje se coloca nos debates sobre o ambiente, por exemplo). espírito frio e racionalista dos enciclopedistas O genebrino reivindicou o poder especulativo do ser humano, mas fê-lo dando especial ênfase à componente voluntarista da ação humana, e não a esquemas racionalistas e abstractos. O voluntarismo rousseauniano assenta na ideia de que o ser humano pode ser potencialmente racional, mas o seuSão as normas sociais que determinam não só o progresso mental e técnico, mas também a própria moralidade. A natureza do homem depende da sociedade e não o contrário, uma vez que o homem se encontra num estado de natureza, é essencialmente amoral, nem bom, nem mau em si mesmo (Giner, 1987: 341) Daí a ênfase do filósofo na educação, argumentando que a educação então existente não tinha feito mais do que corromper o ser humano.

A ideia de que a sociedade transforma radicalmente os homens estará presente em toda a literatura dos socialistas e sindicalistas de várias épocas, mas é interessante notar que Rousseau não faria parte da tradição abolicionista. Para ele, as primeiras fases em que a sociedade se desenvolveu marcaram um processo sem retorno, e o aparecimento de a desigualdade resultante da propriedade privada e da acumulação de riqueza era irreversível Ao atribuir a corrupção do homem à sociedade, Rousseau abria caminho a uma crítica do liberalismo económico, opondo-se à ideia de que o egoísmo era a principal força motriz do liberalismo económico.Embora Rousseau reconheça a existência de uma tal pulsão egoísta, dá maior importância ao amor de si, ao lado do qual coloca o sentimento de piedade pelos outros, fazendo da capacidade de egoísmo e do egoísmo o único meio de maximizar o lucro. empatia e simpatia no centro da sua filosofia.

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A crítica rousseauniana à frieza do espírito iluminista está também presente na crítica conservadora anti-iluminista, marcada por uma clara sentimento anti-modernista que representava uma inversão do liberalismo A forma mais extrema foi a filosofia contrarrevolucionária católica francesa, representada por Louis de Bonald (1754-1840) e Joseph de Maistre (1753-1821), que proclamariam o regresso à paz e à harmonia que supostamente reinavam na Idade Média, atribuindo a culpa da desordem social prevalecente às mudanças revolucionárias e valorizando positivamente os aspectos que aIluminismo considerado irracional, e assim, a tradição, a imaginação, a emoção ou a religião seriam aspectos necessários da vida social. Esta premissa tornar-se-ia um dos temas centrais dos primeiros teóricos da sociologia e constituiria a base para o desenvolvimento da teoria sociológica clássica. A sociedade começaria a ser considerada como mais do que a soma dos indivíduos, governada pora sociedade criava indivíduos por meio da "lei" e cujos componentes respondiam ao critério da utilidade. processo de socialização O sistema era, portanto, a unidade de análise mais importante, e não os indivíduos, e era composto por funções, posições, relações, estruturas e instituições que não podiam ser alteradas sem desestabilizar todo o sistema como um todo. Reconheceremos aqui os elementos edificantes do que ficou conhecido como funcionalismo estrutural, cuja conceção de mudança social é altamenteconservador.

O cientificismo herdado do Século das Luzes, bem como a necessidade de dar conta dos novos problemas decorrentes do mundo moderno, favoreceu o estudo dos agrupamentos humanos, levantando a questão de saber se era ou não possível o estudo objetivo da espécie humana. Assim, embora seja possível remontar a Aristóteles para encontrar traços do pensamento sociológico, é possível aceitarque O nascimento desta disciplina teve lugar quando uma série de autores propôs o estudo sistemático e empírico da realidade social. A gestação da ciência sociológica não foi isenta de problemas, tantas vezes rotulada não só de anticientífica mas também de anti-científica, devido aos graus de certeza com que é possível analisar um objeto de estudo tão complexo,graças ao trabalho de todos os sociólogos que dedicaram os seus esforços a pôr em evidência a dimensão social da nossa condição humana, podemos dizer com certeza que possuímos hoje um maior conhecimento de nós próprios e do meio em que estamos naturalmente imersos, o que torna possível, talvez um dia, estabelecer uma organização social.ideal mais justo.

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Nicholas Cruz
Nicholas Cruz
Nicholas Cruz é um leitor de tarô experiente, entusiasta espiritual e ávido aprendiz. Com mais de uma década de experiência no reino místico, Nicholas mergulhou no mundo do tarô e da leitura de cartas, buscando constantemente expandir seu conhecimento e compreensão. Como um intuitivo nato, ele aperfeiçoou suas habilidades para fornecer insights profundos e orientação por meio de sua interpretação hábil das cartas.Nicholas é um crente apaixonado no poder transformador do tarô, usando-o como uma ferramenta para crescimento pessoal, auto-reflexão e capacitação de outras pessoas. Seu blog serve como uma plataforma para compartilhar sua experiência, fornecendo recursos valiosos e guias abrangentes para iniciantes e praticantes experientes.Conhecido por sua natureza calorosa e acessível, Nicholas construiu uma forte comunidade online centrada na leitura de cartas e tarô. Seu desejo genuíno de ajudar os outros a descobrir seu verdadeiro potencial e encontrar clareza em meio às incertezas da vida ressoa com seu público, promovendo um ambiente de apoio e encorajamento para a exploração espiritual.Além do tarô, Nicholas também está profundamente conectado a várias práticas espirituais, incluindo astrologia, numerologia e cura por cristais. Ele se orgulha de oferecer uma abordagem holística à adivinhação, baseando-se nessas modalidades complementares para fornecer uma experiência completa e personalizada para seus clientes.Como umescritor, as palavras de Nicholas fluem sem esforço, encontrando um equilíbrio entre ensinamentos perspicazes e narrativa envolvente. Por meio de seu blog, ele mescla seus conhecimentos, experiências pessoais e a sabedoria das cartas, criando um espaço que cativa os leitores e desperta sua curiosidade. Seja você um novato procurando aprender o básico ou um buscador experiente em busca de insights avançados, o blog de aprendizado de tarô e cartas de Nicholas Cruz é o recurso ideal para todas as coisas místicas e esclarecedoras.